Difícil alguém negar que uma criança precisa brincar. Entretanto, raros adultos levam essa necessidade a sério. Em casa, na rua e especialmente nas creches e escolas, o direito à brincadeira é reconhecido por muito poucos como essencial ao desenvolvimento infantil.
Se não há estímulo para brincar em casa, a situação piora na creche, na pré-escola e depois na escola. "Não há tempo nem espaço dedicados à brincadeira, nem brinquedos.É rara a escola equipada, que invista nesse aprendizado". Na sala de aula, ou ela é utilizada com um papel didático e acaba totalmente dirigida, ou é considerada uma perda de tempo. E, até na hora do recreio, precisa conviver com um monte de proibições - como também ocorre nos prédios, clubes e condomínios.
Esse descaso talvez se deva à falta de conhecimento sobre os benefícios da brincadeira para o desenvolvimento infantil. "Brincar é um aprendizado, que se tornou vital em nossa sociedade", diz Gisela. Segundo a socióloga, "a infância é um tempo para brincar e através da brincadeira entrar no mundo dos adultos, não de forma imediata, mas simbólica". Na brincadeira, a criança dirige, cuida do bebê, vai trabalhar, cozinha, constrói casas, tudo o que percebe no mundo adulto. "Nesse espaço imaginário, ela elabora seus conflitos, sentimentos e medos", diz Maria Stela. Por isso, numa brincadeira de casinha, logo aparece a briga dos pais, a bebedeira do vizinho ou a bronca da professora. Brincando, a criança amadurece e se fortalece.
Ao mesmo tempo, brincar é criar, tomar iniciativas. É aprender as regras e limites para que o jogo funcione. "A criança reconhece a importância de normas legítimas".Descobre valores. Aprende a conviver sem gritar e brigar. Ganha auto-estima e confiança, pois se sente capaz de participar. Desenvolve a concentração, a coordenação e a habilidade motora. Dá asas à imaginação e à fantasia.